Refletir sobre a vida ora me faz bem, ora mal. Na noite passada pude sentir uma forte sensação de abatimento, angústia e incrivelmente, também de satisfação.
Recebi um cd player para ouvir, a música: Epitáfio,ouvi em minha sala, sentada no sofá (que é bem confortável e branco) em tom baixo, e como era penetrante aquela música... Repeti por várias vezes e em cada uma das vezes me transportava a mais questionamentos e a mais reflexões de tudo o que já vivi até aquele momento. Tive a convicção de que me fez repousar sobre a quimera de estar vivendo ou buscando viver outra, uma nova história.
Comecei a questionar-me de que eu devia ter amado mais (como é bom amar) e até ter chorado mais. Nas manhãs de verão devia ter visto o sol nascer. Em muitas decisões comedidas, devia ter arriscado mais e quiçá até errado mais, não sei, mas devia ter feito o que eu queria fazer. Desisti de muita coisa, de muitas pessoas, sei, fui intransigente, apática e queria ter aceitado as pessoas como elas são, porque cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração, devia ter visto isso antes.
Naquela noite senti uma dor imensurável, desejei viver, viver intensamente, percebendo as mínimas peculiaridades e sei que o acaso vai me proteger, mesmo quando eu andar distraída, o acaso vai me proteger, enquanto eu andar...
Sabe, sou demasiadamente perfeccionista e devia ter complicado menos e trabalhado também menos, porque inúmeras vezes, quando a tarde caía, não contemplei a beleza que envolve os meus dias nos momentos em que o sol se põe, e eu devia ter visto o sol se pôr. Acho que também devia ter me importado menos, com problemas pequenos (fazer tempestade por nada, que absurdo), como eu queria, ter morrido de amor, algo que descobri é que o amor sempre vale a pena, e devia mesmo ter me entregue e ter morrido de amor.
A vida parece complexa, mas é tão singela, tão sublime, insigne, e queria ter aceitado a vida como ela é, percebi que a cada um cabem alegrias, contudo também a tristeza que vier. Senti profundo regozijo na alma ao perceber que o acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraída, vai me proteger, enquanto eu andar.
Refleti muito e quando me apercebi, havia passado horas, e eu ali, naquele sofá, deitei, sentei e não parei de pensar. Quando a minha alma elevou-se ao mais profundo êxtase, concebi uma paz transbordante, porque tudo aquilo que não fiz, quero e vou fazer, vou realizar com a maior opulência e concepção de detalhes.
