INSTANTES
Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo.
Composição: Sérgio Britto
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...
Intertextualidade
A ânsia de voltar no tempo, de refazer a vida e a história vivenciada denota com veemência a indignação por tudo aquilo que devia ter sido feito e não fez, da pessoa que foi e que não gostaria de ter sido, da vida que viveu e já não pode mais vivenciar.
O desejo de ter amado mais, chorado, arriscado e até errado mais, estão presentes nos dois textos “Epitáfio” e “Instantes”. A aspiração de querer uma nova oportunidade, remete ao anseio de vivenciar momentos meramente insignificantes na vida e que explicitamente passam despercebidos como o nascer e o pôr do sol, a beleza dos entardeceres, a subida nas montanhas, a natação nos rios.
Impera a labuta, a extrema seriedade nos acontecimentos, uma vida sem riscos, sem erros, sem liberdade, em detrimento dos momentos simples, todavia insignes que devem ser vivenciados, porque a vida é feita de momentos e saber aproveitá-los é uma arte e é sempre a melhor escolha.
Ficar consternado com problemas pequenos e imaginários, relutando por uma vida menos sensata e complicada está presente, mesmo considerando os momentos alegres. Estar condicionado a postergar uma vida sem maiores riscos e desafios, incluindo a austeridade de viver uma conjuntura daninha, sem discernir que desarraigar da vida tudo o que não edifica e traz regozijo pode ser o melhor a fazer.
Contudo não é fácil aperceber-se disso com tanta eficiência, geralmente algo ocorre para que o sentimento de arrependimento surja, seja pela idade avançada ou qualquer outro motivo que leve a uma reflexão profunda e minuciosa de tudo o que se viveu e não pode mais ser mudado.
Adorei esse trabalho,era tudo que eu precisava.obrigadooooooooooo...
ResponderExcluirQue bom que gostou Pablo, fique a vontade para entrar quando quiser!
ResponderExcluirAbraços!!!